A existência no plano animal-humano baseia-se na lei da luta pela vida. No entanto, essa não é uma lei universal e definitiva, mas relativa a este plano, destinada a desaparecer com a evolução. Esta transformação corresponde a um processo de saneamento do separatismo, fruto da queda, alcançando a unificação, fruto da reconstrução evolutiva. Neste processo os elementos separados tendem sempre mais a reunir-se até se fundirem, reconstruindo o seu estado orgânico. Temos três fases, possíveis posições, nas quais o homem se encontra:

1ª) Homem isolado, em luta contra a natureza. Método da força e da violência.
2ª) Homem que se reagrupa em sociedade, deve, portanto, lutar menos contra a natureza, mas é rival dos outros componentes do grupo. Desuso do método força-violência e a sua substituição pelo da astúcia-fraude.
3ª) Homem que vive no estado orgânico de coletividade. Tendo, como no método precedente, desenvolvido a inteligência, acaba por compreender quanto é contraproducente o sistema astúcia-fraude e como é vantajoso superá-lo. Então, para alcançar com menor esforço maior bem-estar, adota o método da sinceridade-colaboração.

Segundo as três mencionadas fases de evolução, verifica-se um  fato: os meios fraudulentos substituem os violentos e os colaboracionistas substituem os fraudulentos. A humanidade se encaminha para entrar nesta terceira fase. Assim se transformará também para o homem a lei da luta pela vida.  A cada passo em frente, no caminho da evolução, diminui primeiro a violência em favor da fraude, mal menor que substitui o maior, a fraude, por sua vez, diminui em favor da sinceridade e colaboração. As religiões e a moral representam a descida dos ideais e trabalham neste sentido, para libertar a humanidade dos métodos fraudulentos da luta pela vida, substituindo-os por um sentimento de solidariedade social, de ajuda recíproca num estado de colaboração e convivência pacífica.

O que impede de se chegar a viver numa posição para todos mais vantajosa, é somente a ignorância. Não há outro método para eliminá-la, senão sofrer as duras consequências do estado atual. Sofrer até ser obrigado a procurar melhor  posição e, com a experiência adquirida, encontrá-la mais facilmente. Depois, para permanecer aí, com o desenvolvimento da inteligência, compreender que isso é o melhor. Trata-se de conquistar novas qualidades, porque não adianta sobrepor novos sistemas econômicos, sociais, políticos, a indivíduo imaturos. Desenvolvendo o espírito de associação, trata-se de eliminar o atávico antagonismo individual, de modo que as forças dos indivíduos isolados não se eliminem, destruindo-se numa luta recíproca, mas ao contrário, possam se somar num estado de cooperação. Assim se obtém um rendimento imensamente maior e é muito mais fácil resolver o problema da sobrevivência, biologicamente fundamental.

Do livro "A Descida dos Ideais" , capítulo 01